segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Jóias de Cristo


                Hoje assistimos a uma pequena cantata infanto-juvenil em nossa igreja. O título da obra era: “Os Sonhos das Três Árvores”. Em poucas palavras, cada uma das três árvores tinha um sonho grandioso, mas que não aconteceria, cada uma se tornaria, ao invés de aquilo que desejava, coisas insignificantes: um cocho, um barquinho e duas traves (que formariam juntas uma cruz...). Clássico.
                Mais um programa igrejeiro ao qual todos nós estamos mais que acostumados. Muito bem. Seria simplesmente isso se eu não tentasse ir mais fundo, se não escarafunchasse um sentido maior do que ser mais um dos centenas (milhares?) de programas que assisti ou ainda assistirei.
                Procurei imaginar, olhando no rostinho de cada uma criança que cantava ali, que atrás daquele sorriso que estava estampado, daquela representação meia-boca, característica infantil, enfim, cada criança que estava ali carregava sua própria tragédia/comédia de vida. Cada uma vidinha ali tinha suas peculiaridades: lembrei de uma que tinha uma doença incurável, que a acompanharia por toda sua vida, lembrei de outra que volta e meia tinha convulsões, lembrei que um garoto, naquela mesma noite havia “mandado” todos de igreja fazerem coisas bastante obscenas...pois é. Ali estavam como anjinhos cantando e prestando o “perfeito louvor”.
                Lembrei que para estarmos perto de Deus pela eternidade (prefiro não divagar sobre o céu, todas as metáforas bíblicas não são suficientes para o descrever, escolho entender que é bastante saber que “perto de Deus” e “longe de Deus” são lugares diametralmente opostos...) precisamos nos tornar como eles. Como as crianças. E é neste exercício de transcrever aquilo que absorvo que tento, me esforço mesmo, para capturar a assertiva divina. O que será que precisamos copiar das atitudes infantis para termos acesso ao paraíso?
                Não adianta mais vir com aquelas respostas prontas: confiança...inocência...etc. porque se analisarmos bem veremos que, principalmente em nossos dias, confiança e inocência são coisas que as crianças quase já nascem sem (talvez porque nós mesmos não inspiremos confiança e porque estejamos roubando sua inocência...).
                Ainda não sei bem a resposta, tenho um palpite e tento apreender pela relação que tenho com meus filhos, mas ainda assim esta é uma comparação insuficiente para descrever a nossa relação com o Todo Poderoso. Fora o fato de que me reconheço pecador e por mais que lute, o testemunho paulino é, como o foi para o próprio, verdade para mim (o bem que quero fazer não faço, mas o mal que não quero...).
                Mas meu palpite é o seguinte: a criança é um poço de potencialidades! Tudo o que ela quiser ser, ela será! Tudo aquilo, também, que for ensinada a fazer, fará.
Conversava com um amigo e ele me contava (apavorado, com toda razão) que na turma de sua filha de oito anos havia um menininho na mesma faixa etária que era ASSUMIDAMENTE gay, e todos o tratavam como tal, PROFESSORES e alunos. “Ele é produto do meio”, dizia o amigo. NÓS sabemos muito bem disso, parece que ELES não sabem.
Nos falta essa abertura, com o passar do tempo vamos nos fechando, vamos nos enclausurando dentro de um caracol de experiências, de impossibilidades que nós mesmos nos impomos e quanto mais entramos nesse caracol, mais ficamos presos...
                Vocações são perdidas pela aparente impossibilidade, muitíssimo daquilo que já poderia ter sido realizado em prol do Reino fica à deriva porque, mesmo que ouçamos a voz divina (vocação é isso, ouvir a voz...) chamando para o trabalho, nos encontramos presos em caracóis que nós mesmos construímos, “renovação do entendimento” é, na melhor acepção da palavra, uma utopia (lugar que não existe...) porque já nos bastamos. Não há espaço para mudança, nem Deus nos muda o entendimento...
                Me ocorreu agora pensar em o quê cada criança daquele coro estará fazendo daqui a dez anos... lembrei que seja o que for, será, em parte, culpa minha também.
Tentarei dormir com esta inquietação.
Paz.

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