segunda-feira, 11 de abril de 2011

Hoje foi um dia atípico. Explico. O que vou contar a seguir não endossa a idéia de que emoções só acontecem extraordinariamente em minha fugaz existência, muito pelo contrário, me considero um ser bastante emotivo, do tipo que chora até em filmes como "Titanic"...
Mas o que vivi hoje foi, de certa forma, diferente de toda emoção artificial a que somos sempre expostos, mas para entender o que aconteceu, preciso explicar alguns fatos anteriores.
Há algum tempo, não me lembro ao certo, nesta lide ministerial, precisei comparecer a um serviço fúnebre, coisa comum a quem abraça o ministério pastoral. Mas não se tratava de um funeral comum, estava sendo enterrado um militar, falecido enquanto estava em serviço. Não bastasse isso, esse irmão (era irmão o falecido) vinha a ser filho da zeladora de nossa congregação, e como ele havia falecido no mar, numa ilha, houve uma certa demora em encontrarem o seu corpo. Pois bem. esquife fechado, uma corporação em prantos, é, marmanjos enormes de branco aos prantos pela perda do querido amigo, pais inconsoláveis diante de um pedra tão prematura e uma esposa e dois filhos passando por momentos que somente Deus pode compreender. Como se ainda não bastasse a salva de tiros, um oficial e o seu pastor que sequer conseguiram completar suas falas, um menino de mais ou menos onze anos, no dia de seu aniversário, bradava em alta voz: "meu amigo foi embora, meu pai, meu amigo está indo embora..." Não sei você, mas aquilo foi demais para mim. Mas consciente de que, no desenrolar de uma missão como aquela, se as lágrimas brotassem elas não cessariam de cair...
Enfim, desde aquela data a garganta dá um nó sempre que me lembro daquele garoto.
Ontem, domingo à noite, numa cerimônia para os Embaixadores do Rei, aquele garoto (que parece estar vindo para a nossa congregação devido ao seu compromisso com essa organização, e pela familiaridade com alguns, já que seus avós e alguns tios e primos pertencem a esta igreja) estava bem na minha frente, o olhar ainda frágil, refletindo um vazio que perdurará por toda a sua vida, acompanhado de sua mãe e de seu irmão menor, recebeu o "diplominha" de ER.
Tive que correr. Corri para o banheiro, me tranquei ali e dei vazão a todo aquele choro que não pude expressar antes. Chorei por mim, chorei por ele, chorei pela sua mãe e pelo seu irmãozinho, enfim ainda estou chorando tentando imaginar porque uma criança tem de passar por esta situação.
No meio dessa reflexão descobri que nunca entenderei o porquê, mas descobri algo que, assim como mudou a sua vida para sempre, pode mudar a minha. EU preciso estar junto, EU preciso trabalhar para que a enorme lacuna que ainda machuca seu coração possa um dia diminuir um pouco, EU necessito ser consciente  de que as minhas ações podem melhorar a sua qualidade de vida, EU fui confrontado com uma situação que não posso mudar nem mesmo entender, mas posso e devo agir para que os rumos desta vida que se inicia com uma dor tão forte mudem para melhor.
Espero ter essa utilidade. Mesmo.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Dude, this is awesome...

40  – Bono Vox (U2)
 
I waited patiently for the Lord 
  Eu esperei pacientemente pelo Senhor
He inclined and heard my cry
  Ele se inclinou e ouviu meu clamor
He brought me up out of the pit
  Ele me tirou do abismo
Out of the miry clay
  Para fora do lamaçal
I will sing, sing a new song
  Eu cantarei, cantarei uma nova canção
I will sing, sing a new song
  Eu cantarei, cantarei uma nova canção
How long to sing this song
  Quanto tempo para cantar esta canção?
How long to sing this song
  Quanto tempo para cantar esta canção?
How long…how long…how long…
  Quanto tempo, quanto tempo, quanto tempo
How long…to sing this song
  Quanto tempo para cantar esta canção?
He set my feet upon a rock
  Ele firmou meus pés na rocha
And made my footsteps firm
  E fez firme minhas pegadas
Many will see
  Muitos verão
Many will see and fear
  Muitos verão, muitos verão e ouvirão
I will sing, sing a new song
  Eu cantarei, cantarei uma nova canção
I will sing, sing a new song
  Eu cantarei, cantarei uma nova canção
I will sing, sing a new song
  Eu cantarei, cantarei uma nova canção
I will sing, sing a new song
  Eu cantarei, cantarei uma nova canção
How long to sing this song
  Quanto tempo para cantar esta canção?
How long to sing this song
  Quanto tempo para cantar esta canção?
How long…how long…how long…
  Quanto tempo, quanto tempo, quanto tempo
How long…to sing this song
  Quanto tempo para cantar esta canção?

sábado, 19 de março de 2011

Artigo do Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho - Mais que relevante em nossos dias...

A adoração e a proclamação

Autor: Isaltino Gomes Coelho Filho
Da palestra passada não se deve inferir que advogo uma Igreja alienada, ensimesmada, enfurnada em quatro paredes, cantando "somos um pequeno povo mui feliz" enquanto o mundo lá fora está rebentando por todas as juntas, numa frase de Sartre. Se o Programa de Educação Religiosa dá o cultuar a Deus como a primeira missão da Igreja, declara que a segunda missão é "anunciar as boas-novas".
Vou usar o termo proclamação para esta segunda missão, que é a evangelização. É preciso também defini-la. É mais que pedir aos homens para aceitarem a Jesus como Salvador. Diga-se que esta construção de palavras, "aceitar Jesus como Salvador", não consta do Novo Testamento. A chamada neotestamentária é para submeter-se a Cristo como Senhor.
A proclamação é o anúncio dos atos de Deus em Cristo. Paulo sintetizou isto de forma admirável em 2Coríntios 5.19: "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo". Foi isto que Deus fez em Cristo. É isto que a Igreja deve anunciar.
A missão da Igreja junto ao mundo é mais que promover a fraternidade entre os homens. Voltemos a Paulo, desta vez em 2Coríntios 5.20: "...rogamo-vos, pois, por Cristo, que vos reconcilieis com Deus". A Igreja chama o mundo a aceitar a reconciliação com Deus, proposta que ele já fez na pessoa de Jesus Cristo.
Juntemos as pontas até agora. A adoração é a missão primeira da Igreja em termos gerais,. É a linha vertical da missão da Igreja. A proclamação é a missão segunda da Igreja em termos gerais, mas é a primeira na linha horizontal, na direção do mundo. Vertical e horizontal fazem a cruz, que tem estas duas linhas. Se faltar uma delas, a cruz não existe. A Igreja é uma comunidade profundamente marcada pela cruz. É ela uma comunidade marcada pelas linhas horizontal e vertical. Sua missão tem também uma dimensão horizontal e outra vertical. Se ela viver enclausurada em adoração, só na dimensão vertical, isso pouco ajudará ao mundo. Se se dirigir ao mundo (a dimensão horizontal) sem o poder que a comunhão com Deus pela adoração outorga ao homem, isso será uma missão fadada ao fracasso. Só uma Igreja que vive na presença de Deus conseguirá mostrar Deus ao mundo. Como comunidade marcada pela cruz, a Igreja se dirige a Deus e ao mundo. Tem uma missão vertical e uma horizontal. Ela adora a Deus, sua razão primeira de ser. Ela proclama a reconciliação aos homens, conseqüência do seu conhecimento de Deus.

1. A relação Igreja e mundo
Já vimos a relação entre a Igreja e Deus, na preleção passada. Veremos agora a relação entre a Igreja e o mundo. Ela está no mundo, mas não se mancomuna com ele. Vive numa tensão, estar, mas não ser. está aqui, mas não é daqui. E está aqui com uma missão, que chamei de missão horizontal: a de proclamar o evangelho. Duas questões devem ser aqui levantadas. A primeira é o que entendemos por evangelho. É evidente que aqui não me refiro ao estilo literário encontrado na Bíblia, mas ao seu conteúdo. A segunda é o que entendemos por proclamação.

2. O conteúdo do evangelho
O conteúdo do evangelho pode ser deduzido desta declaração do Pacto de Lausanne, ao falar sobre o que é evangelizar: Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou segundo as Escrituras, e de que, como Senhor e Rei, ele agora oferece o perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a todos que se arrependem e crêem. A definição é sobre o que é evangelizar, mas caracteriza bem o conteúdo do evangelho. E mostra o que é proclamação. A encarnação de Deus em Cristo, sua morte vicária, sua ressurreição, o perdão oferecido e o Espírito que é dado aos arrependidos que crêem. Proclamar as boas-novas é dizer isto.
Por que comecei com algo tão óbvio? Acho que meu raciocínio é muito cartesiano e por isso gosto de começar do mais elementar para construir a argumentação. Mas é que há hoje muita proclamação equivocada, oferecendo riqueza, cura, apoio da parte de Deus, mas sem falar em necessidade de arrependimento, de perdão de pecados, da morte de Cristo na cruz. Dirá alguém: "Ótimo, diga isso aos pregadores". Ah, sim, sempre digo. Mas devo dizer também aos músicos que usam um instrumento tão poderoso como a música para a proclamação. O conteúdo de nossos hinos e de nossos cultos deve realçar fortemente um conceito correto do evangelho. O que me prendeu primeiro à Igreja foi a música. Quando entrei pela primeira vez numa igreja evangélica, ouvi o coro cantar dois hinos: "Eis vede que o Cordeiro de Deus sobre a cruz morreu em meu e em teu lugar" e "No Monte das Oliveiras Jesus orou dizendo..". Não entendi completamente a mensagem pregada porque não dispunha de capacidade para acompanhar um discurso religioso por meia hora. Faltavam-me os elementos para fazer as conexões mentais necessárias. Entendi que tratou de algo que eu não tinha e de que precisava, por isso voltei nos domingos seguintes e volto até o dia de hoje, mais de trinta anos depois. Mas a música, com sua facilidade de comunicar uma mensagem, de repetir refrães, ficou na minha mente. O que me alcançou primeiro foi a mensagem correta dos hinos que ouvi. Depois, a mensagem correta da Palavra, que o Pr. Falcão Sobrinho sempre pregou, que me alcançou. Aliás, até hoje, meu conteúdo teológico é pietista, o que herdei dele.
O que estou dizendo é da extrema necessidade de teologia correta em nossos cânticos e de comunicação eficiente nas nossas letras. A Igreja não deve apenas pregar uma mensagem ortodoxa, mas deve cantar também hinos ortodoxos. Num culto de proclamação, os hinos não são para amolecer os corações ou para criar um clima emotivo. Os hinos devem comunicar uma mensagem. Creio que todos já tivemos a experiência de uma audição ou cantata apresentada por um coro ou um culto musical, e depois, quando feito o apelo, sucederam várias decisões. A música não é um apêndice ou um componente da proclamação. Ela também proclama e isso deve ser levado em conta, no tocante ao conteúdo e à escolha dos hinos. A Igreja não apenas prega para o mundo, ela também canta para o mundo. E, por vezes, o mundo ouve mais o que a Igreja canta do que o ela prega.
Acho que isso nos abre um leque para algumas considerações.

3. O conceito de proclamação
Já deixei antecipado alguma coisa sobre a proclamação no tópico anterior. Nem sempre se separam bem os argumentos. Vou começar aqui com uma história triste, que deveria ser engraçada. Ou engraçada, que deveria ser triste. A ótica vai ser sua. Dizia-me um seminarista, filho de pastor, que na igreja do seu pai, a linha dos sermões era bem definida. De manhã, sermão era doutrinário. O pastor falava mal dos pentecostais. À noite, sermão era evangelístico. O pastor falava mal dos católicos. Tirando o exagero da história, fica a pergunta: existe esta linha tão bem definida, de que o culto evangelístico é para os não crentes? Quando se pensa assim, a proclamação passa a ser uma recitação de frases feitas, tipo "Deus te ama", "Jesus salva", "Vem agora porque um ônibus pode te atropelar na saída do culto e amanhã será muito tarde", etc. Um conteúdo banal e irrelevante, no sentido de acréscimo à vida dos crentes.
Volto ao Programa de Educação Religiosa. Ele é como a Constituição: tem valor, mas poucos o conhecem. Diz ele sobre o anúncio das boas-novas (que estou chamando de proclamação): Anunciar o evangelho significa comunicar tudo o que Deus fez através de Jesus Cristo para a salvação do ser humano. É colocar as pessoas frente a frente com as boas-novas da redenção outorgada por Deus por meio de Cristo. É a evangelização. E, na seqüência imediata, para o que chamo a sua atenção, o seguinte: Não é somente anunciar as boas-novas aos incrédulos, mas também ajudar os crentes a dissiparem suas dúvidas, até que todos cheguem "à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo" (Ef 4.13).
A proclamação não é recitação de chavões, mas é o ensino da teologia da salvação, o que os teólogos, pomposamente chamam de soteriologia. Um culto de proclamação não apenas coloca os não crentes diante da graça de Deus oferecida em Cristo, mas firma no crente suas convicções sobre sua decisão, ajuda a aumentar seu conhecimento sobre a obra de Cristo, dá mais elementos para sua capacitação no testemunho.
Vejamos o papel da música aqui. É evidente que, para pessoas sem conhecimento do evangelho, sem elementos evangélicos em sua mente, a letra deverá ser simples (o que não significa ser banal ou fraca) e comunicar alguma coisa. Sem apedrejar ninguém: fui pregar num culto jovem, com propósito de evangelizar jovens. Cantamos apenas corinhos. Mas o ritmo se sobrepunha à letra. Era tão agitado e tão instrumental (no sentido de que os instrumentos apareciam mais que a mensagem) que nada comunicava. Não se ouvia a letra, mas apenas os instrumentos. E a letra se perdia num ritmo muito rápido, não podendo ser assimilada. Quando chegou a hora da pregação, defrontei-me com um auditório cansado, agitado, mas sem nenhum elemento evangélico assimilado. Os jovens estavam muito bem intencionados, mas mal orientados. A música evangélica, naquela noite, não pregou, e serviu para cansar. Pareceu-me, até, que atrapalhou. A reflexão que o sermão poderia trazer se perdeu porque o auditório estava excitado e sem condições de pensar.
A proclamação deve ser compreensível. Não é apenas o sermão, mas os hinos. Deve haver compatibilidade entre letra e música. Se o ritmo não favorece a mensagem comunicada pela letra, haverá prejuízo. Deve haver, também, compatibilidade entre ritmo e propósito. Quando estudei Publicidade, um dos pontos que me foram mostrados foi o uso da música para vender. Observem que em supermercado a música não é lenta, para favorecer a reflexão. É agitada exatamente para que as pessoas não pensem e ajam sob a influência de cores, formas, luzes e exposição de objetos. É para induzir à compra. Há uma música para supermercado. Há uma música para um restaurante de luxo, com jantar à luz de velas, onde o desejo é que o casal tome um champanha, que é mais caro, que uma cerveja. O ritmo funk num restaurante de luxo, freqüentado por pessoas abonadas, frustrará o propósito do restaurante. Não se consumirá.
Não estamos querendo manipular pessoas, mas querendo mostrar que há um poder na música que as pessoas nem sempre relevam. Para mim aqui reside o grande problema. Seja por pressão, seja para manter os jovens aquietados, boa parte dos pastores está deixando a música na Igreja nas mãos de moços bem intencionados, mas desconhecedores do poder da música, dos estilos e a sua relação com os tipos de mensagens, de teologia (quanta barbaridade se canta por aí) e de português (Camões teria um ataque apoplético se entrasse em algumas de nossas igrejas).
A música proclama através de uma teologia correta, de uma adequação entre mensagem e veículo, ou seja, entre conteúdo e forma. Nestes pontos ela precisa ser muito bem ajustada.
Fugi um pouco da linha de pensamento. Voltemos a ela: a música comunica não apenas aos incrédulos, mas aos crentes. Para isso precisamos de hinos consistentes, que tragam uma mensagem com conteúdo. Não sou músico, mas sou pregador e dirijo cultos. Neste sentido, em minha ótica, quero dar como exemplo do que estou dizendo o hino 447, do HCC, "Mas Eu Sei em Quem Tenho Crido". A letra é um testemunho admirável, consistente, de teologia correta, de vida cristã piedosa e casada com uma música adequada. É um hino que comunica ao não crente, e da mesma forma, é um alento extraordinário para o membro de Igreja. Da mesma forma, o hino 262. Observem nele uma teologia correta extremamente contextualizada, porque trata da angústia do homem moderno, de solidão, de medo do futuro. Vejam que a música é muito bem encaixada porque induz à reflexão. Imaginem, agora, uma letra desta, reflexiva, induzindo à auto-análise, acoplada um ritmo agitado. Observe também que, além de evangelístico, de proclamar, o hino é confortador. Sua mensagem trata de realidades que nós, membros de Igreja, também enfrentamos.
Uma síntese deste ponto: proclamação não é chavão. Alcança também o convertido. E o casamento letra e música e indispensável para alcançar o propósito de comunicar.

4. Uma questão necessária: a forma.
Ao encerrar o primeiro ponto disse eu que aquilo nos abria um leque. Um dos grandes problemas hoje é a forma. Em alguns momentos, ela é sobreposta ao conteúdo. O ritmo fala mais alto que a letra. Qual é a forma correta?
Voltemos ao que citei na ocasião: A música não é um apêndice ou um componente da proclamação. Ela também proclama e isso deve ser levado em conta, no tocante ao conteúdo e à escolha dos hinos. A Igreja não apenas prega para o mundo, ela também canta para o mundo. É preciso distinguir bem entre o que nos comunica e o que comunica ao mundo. Creio que acontece com os músicos batistas o mesmo que acontece com os pregadores saídos de seminários. Saímos com uma fraseologia, com um tecnicismo que pode ser bom ou desastroso, com uma determinada visão até mesmo elitista.
"O processo soteriológico tem sua gênese concretizatória no drama do Calvário" significa isso: o plano de salvação culminou na cruz. Vou mexer em vespeiros, mas vamos lá. Conto com sua misericórdia. Para nosso povão, o que significa boa parte da música sacra clássica? Podem até achar interessante, mas quanto comunicará? Contava um professor de Homilética de um pregador enfiado num terno preto, com colete e tudo, Bíblia na mão, pregando numa favela do Rio: "Ó vós que passais e me ouvis a prédica". E dizia o professor: "Vós, coisa nenhuma. Meia dúzia de gatos pingados, de sandália de dedo, bermuda e sem camisa. É tu, você, ô cara". Descontado o aspecto cômico, há verdade aí.
Passei por algo semelhante quando pastoreava no interior de S. Paulo. Num culto em Jaú, na Fazenda Barro Vermelho, dos Almeida Prado, não pude pregar. Inflamação das amígdalas. Minha esposa contou história para os ouvintes, com flanelógrafo e figuras. Acabado o culto, disse-me um dos bóia-frias: "Pastor, num prega mais pra nós, não. Quando o senhor fala nós num entende nada. Quando sua muié fala, nós entende tudo. Deixa ela pregar". Era o meu tecniquês teológico o grande obstáculo. E eu pensava que estava abafando.
O que o mundo a quem estamos proclamando, canta? Conheço igrejas indígenas. Não sei quanto o "Dai Louvor", de Mendelsohn, significará para elas. Talvez pouco. Mas sei que músicas no seu alcance cultural significará muito. E se alguém pensa que isso significa tambores, tantãs, barulho infernal, danças, está equivocado. O ritmo, das igrejas que conheço, é até lento. Mas comunica-lhes porque é na sua cultura. A mim, enfada. A eles, fala muito.
Não vou ensinar missa ao vigário, mas os irmãos sabem muito bem que boa parcela de nossas músicas sacras foi importada de outra cultura e aqui sacralizada por seu casamento com uma letra evangélica. Para nós, acostumados com o cenário evangélico, há muita comunicação. Para outros, não. Um padre, que se convertera ao evangelho em Brasília, conversando comigo uma vez disse: "É impressionante como os hinos evangélicos refletem a cultura musical americana. Se fechar os olhos e ignorar a letra, posso pensar que estou no Meio-Oeste norte-americano". Se há uma coisa pela qual me bato é pela teologia tupiniquim, pela eclesiologia tupiniquim, pela música tupiniquim. Dirá alguém que a teologia, por ser bíblica, é uma só, universal. A declaração não reflete a realidade e não penetra na profundidade das coisas. Temos livros sobre aconselhamento pastoral, sobre ética e sobre eclesiologia que mostram um enorme desconhecimento do que seja nossa realidade. Nossa própria formação teológica, nossa estrutura de seminários, é de países ricos e não de país pobre. Sou favor de uma ampla tupiniquinização batista, sem xenofobia, mas tupiniquinização, sim.
Devemos proclamar em nossa cultura, em nosso contexto, em nossa linguagem, em nossa musicalidade, tendo discernimento espiritual (temos o Espírito Santo) sobre o que fazer e o que não fazer.
À guisa de conclusão
Cada vez que relia esta palestra, mais a sentia incompleta. Fiquei um pouco aflito porque notava que falta algo para dizer. Mas consegui me entender (tarefa um pouco difícil). Receei-me de dizer aquilo que os irmãos já sabem e sabem melhor do que eu, na sua área. E estou falando de matéria atinente à sua área. Precisava apenas acrescentar minha ótica, a ótica pastoral. Depois de reler mais de uma vez, achei que tinha dito o que deveria ter dito. A questão, a partir daqui, é ajuntar a sua bagagem cultural na área de música com minhas reflexões pastorais. Somando as duas partes, pensar um pouco e verificar como a música pode ser mais bem empregada na proclamação. Aí creio que chegaremos a algum ponto.

**Palestra apresentada à Associação Batista dos Músicos do Brasil

Sermão anterior em inglês - We "Are" Church

We “Are” Church
2Co 6:18 / Gal 4:6 / Rom 8:16,17

           
From now on, officially and formally, this community that gathers here is now known as an autonomous church, with all rights and responsibilities inherent to this situation. Starting today also formally as a result of this condition, the entire organization and all internal organizations come into existence and act autonomously on behalf of this community.
           
But I daresay that it`s not a date that marks the beginning of a church, much less its internal organization. The internal organization tells little or nothing about anything.
           
Consider a simple and basic example, water. Everyone knows the formula for water: H2O. Two hydrogen atoms and one oxygen atom. Hydrogen is a highly flammable gas. The dangerous and deadly H-bomb has this name because of this gas. And oxygen is the gas needed for any kind of burn. Well, join an explosive gas and a gas needed for burning and what you get? Water. The internal organization says nothing about anything.
           
Its not because from now on this community is replaced by an organization it becomes a church. It’s not the formalities that will miraculously give it this condition.
           
But then, what is needed for a community to become a church? What are the conditions that make a community of people can identify and recognize itself as a church?


1) The consciousness of BEING the church. (I Co.12: 27)
a) "You are" very well explains this relationship. From the moment that the Holy Spirit transformed our lives, we BEcome the church and our body becomes a temple.
b) Any reference to the church must be done before, in front of the mirror.

2) Unity. (Ephesians 4:13)
a) "Till we all come ..." A long way, its not magic nor immediate. Coexistence in the church requires communion.
b) "... the unity of faith ..." There is 'one faith' and is our duty to search it, pursue to understand it, practice it and announce it.

3) Goals.
a) To witness, making disciples. (Matt. 28:19)
b) To teach, feeding the body. (Matt. 28:20)
c) To celebrate, glorifying God. (Ephesians 1:12)
d) To serve, showing the highest calling. (Lc.10: 36.37)

Commitment. (Luke 9:62)
a) With Christ (personal level).
b) With the Kingdom (relationship level).
c) With the Service (task, not only worship) (vocational level).

           
A man phoned the office of a pastor in a church one day to learn how to become a member of this church. He said he would not be able to get involved in anything, but felt it was important to have some religious affiliation. The pastor then told that man that the church he pastored was perhaps not the most suitable place for him, but he knew a place where it would fit very well. The pastor gave him an address and then said goodbye. On Sunday morning the man followed the instructions and reached an abandoned building in ruins. The roof was falling, the doors were jammed, and the plants have already entered through the broken windows. Promptly he called the pastor and said that address was wrong. The pastor said, "No, the address is not wrong, this is the place. This place housed a church that had a membership roster full of people who never committed to anything, never been involved in the work ... "
This is what happens to a church whose members do not agree and not get involved.
In order to this community to be really a church, every one of its members must to be aware of he/she is an individual church of Christ, to seek unity at any cost in the Spirit, establish common goals and develop a commitment to reach all levels of life
.

Primeiro sermão.

Este sermão foi proferido pela primeira vez (é, eu assumo que uso e reuso as obras que custosamente arranco das minhas mente/mãos...) por ocasião da organização da 23ª IB em Mesquita (ô nomezinho... (des)culpem o Pr. Cesar Lourenço por esse nome abençoado...rsrs). O texto-base não passa de um belo pretexto, mas ainda assim a argumentação reflete realmente aquilo que penso/prego a respeito.




Texto - Pretexto


E eu serei para vós Pai, E vós sereis para mim filhos e filhas, Diz o Senhor Todo-Poderoso.

E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai.

O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus;

e, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados.



Somos Igreja

2Co 6:18/Gl 4:6/Rm 8:16,17


A partir de hoje, oficial e formalmente, esta comunidade que aqui se reúne passa a ser conhecida como igreja autônoma, com todas as responsabilidades e direitos inerentes a essa situação. A partir de hoje também, formalmente, como decorrência dessa condição, toda a organização e todas as organizações internas passam a existir e atuar autonomamente em prol desta comunidade.

Mas ouso afirmar que não é uma data que marca o início de uma igreja, muito menos sua organização interna. A organização interna pouco ou nada diz sobre alguma coisa.

Vejamos um exemplo simples e básico, a água. Todos conhecem a fórmula da água: H2O. Dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. O hidrogênio é um gás altamente inflamável. A perigosa e mortal bomba H tem este nome por causa dessa gás. E o oxigênio é o gás necessário para que haja qualquer tipo de queima. Pois bem junte-se um gás explosivo e um gás necessário para queima e o quê se obtém? Água. A organização interna nada diz sobre alguma coisa.

Não é porque a partir de agora esta comunidade passa a ter uma organização interna que ela passa a ser uma igreja. Não são as formalidades que milagrosamente lhe conferem essa condição.

Mas então, o que é necessário para que uma comunidade se torne uma igreja? Quais são as condições que fazem com que uma comunidade de pessoas possa se identificar e se reconhecer como uma igreja?

1) A consciência de SER igreja. (I Co.12:27)

a) “Vós sois” explica muito bem esta relação. A partir do momento que o ES transforma nossa vida, passamos a SER igreja e o nosso corpo se transforma num templo.

b) Qualquer referência à igreja deve ser feita, antes, na frente do espelho.



2) Unidade. (Ef. 4:13)

a) “Até que todos cheguemos...” Um longo caminho, não é mágico nem imediato. Requer convivência, comunhão.

b) “...unidade da fé...” Há ‘uma só fé’ é nosso dever busca-la, procurar entende-la, pratica-la e anuncia-la.



3) Objetivos.

a) Testemunhar, fazendo discípulos. (Mt. 28:19)

b) Ensinar, alimentando o corpo. (Mt. 28:20)

c) Celebrar, glorificando a Deus. (Ef. 1:12)

d) Servir, mostrando a mais alta vocação. (Lc.10:36,37)



4) Compromisso. (Lc. 9:62)

a) Com Cristo (nível pessoal).

b) Com o Reino (nível relacional).

c) Com o Serviço (nível vocacional).



Um homem ligou para o gabinete de um pastor em uma igreja num certo dia para saber como se tornar membro desta igreja. Ele afirmou que não seria capaz de envolver em nada, mas sentiu que era importante ter alguma filiação religiosa. O pastor então informou àquele homem que a igreja que ele pastoreava talvez não fosse o lugar mais adequado para ele, mas que sabia de um lugar onde ele iria se encaixar muito bem. O pastor deu-lhe então um endereço e despediram-se. Na manhã de domingo o homem seguiu as instruções e chegou a uma construção abandonada, em ruínas. O telhado estava caindo, as portas estavam emperradas, e as plantas já entravam pelas janelas quebradas. Prontamente ele ligou para o pastor e disse que aquele endereço estava errado. O pastor disse: “não, o endereço não está errado, esse é o lugar. Este lugar abrigou uma igreja que tinha o rol de membros cheio de pessoas que nunca se comprometeram com nada, nunca se envolveram nos trabalhos ali realizados...”

Isto é o que vai acontecer sempre numa igreja cujos membros não se comprometam e não se envolvam.

Para que esta comunidade seja realmente uma igreja portanto, cada um dos seus membros precisa estar consciente de que é, individualmente igreja de Cristo, buscar a qualquer custo a unidade no Espírito, firmar objetivos comuns e desenvolver um compromisso que alcance todos os níveis da vida.



SOLI DEO GLORIAE 2901111528

Eu voltei...(agora prá ficar...)

Acontece... às vezes mudam as perspectivas, os horizontes, os motivos e a gente dá um tempo.
Espero ter aprendido alguma coisa com este período infértil, coisa esta que, não somente acrescente algum novo saber mas também não permita que tal período se repita.
Como disse arranjei nova motivação: vou começar a postar as (pequenas e modestas) obras de minha lavra, meus sermões. Espero que, como outros me ajudaram em algum momento, eles sirvam ao seu propósito transmitidos por qualquer voz. Na medida do possível, disporei de cópias em inglês, para os estudantes do vernáculo sheakespeariano.
Mas as postagens não se resumirão às referidas homilias, continuarei produzindo e retransmitindo conteúdo (sempre, na medida do possível, dando os devidos créditos).
Dá-me mais graça, é o que sempre imploro ao Mestre.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Epifania

                               Lembro bem daquela noite: enquanto dirigia para casa, cansado da lide, (talvez nem tão cansado assim) a lide, o ofício de ensinar o incognoscível: música, nos faz um tanto insensíveis tais quais os médicos que cortam, torcem, costuram um ser humano sem o menor remorso, tratamos a música como mero objeto de trabalho, ferramenta através da qual retiramos o sustento, reforçamos idéias e/ou disponibilizamos conteúdo programático... voltando à viagem de volta para casa... ora o rádio ligado, ora o CD tocando quando, aleatoriamente, num momento radiofônico, ouço uma entrevista: Oswaldo Montenegro. Aquele sujeito nunca me chamou a atenção, excetuando-se a música-tema do Sassá Mutema, nada conhecia da obra daquela figura, mas fui, não sei porquê, compelido a continuar escutando e comecei a ouvi-lo muito melhor do que jamais o havia ouvido, falava do seu jeito boêmio, de sua opção por um modo de vida desligado do mundo, de sua descoberta pessoal de que um artista deve ter, tão somente, sua marca claramente estampada em tudo quanto faz, e num momento musical, parte para cantar algumas músicas de seu repertório quando passo por um momento de alumbramento que não vivia há muito tempo... aquela música falava comigo! Tentei até teorizar procurando quais exatamente seriam os temas universais escolhidos pelo autor para conseguir tal efeito, mas a epifania foi tão arrebatadora que os pensamentos se esvaíram, a música gritava meu nome, falava com cada parte da minha vida, dizia tudo aquilo que eu não tinha sido capaz de dizer até aquele momento, tentei teorizar de novo, coloquei a culpa dessa frescura na iminência de uma crise dos quarenta, mas tudo fazia sentido naquele momento... cada palavra, cada verso tinha endereço certo: um determinado momento da minha vida! A experiência quase religiosa ia me arrebatando a cada verso, cada um deles me açoitava...
                Antes que você possa começar a rir de mim sem parar, tente você mesmo não “existencializar” esses versos (principalmente se você já passou dos trinta e cinco)... disponibilizo a letra para que você tire suas próprias conclusões:

                A Lista – Oswaldo Montenegro

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?
  

                Pode enxugar, eu finjo que não vejo...

sábado, 28 de novembro de 2009

Casamentos…

                Nós, (como o Clemir gosta de dizer) mediadores de experiências religiosas, vez em quando somos convocados a realizar uniões matrimoniais, a lei nos torna equiparados a juízes de paz (o que, por sua vez, nos torna despenseiros de múnus legal, o que deveria ser muito mais bem utilizado...(decreto lei 6.025/73 cap. VII)), e enchemos a boca para repetir, como papagaios, a célebre frase proferida pelo Mestre: “...o que Deus ajuntou, não separe o homem...”. Minha rusga com o dito, obviamente, não é quanto ao Mestre tê-lo dito, mas é quanto a nós o dizermos. Quem, efetivamente, sabe se Deus REALMENTE ajuntou determinadas pessoas que insistem em juntar-se? Fiamo-nos no igualmente célebre dito de Cristo: “... o que ligares, pois, na terra, será ligado no céu...”, mas isso também foi dito pelo Mestre a uma pessoa, especificamente: Pedro. Quem disse que seria verdade para cada um de nós? Quantos casamentos celebrados lindamente em nossos templos acabam em separação, às vezes até litigiosa? Ainda bem que são poucos, por enquanto, mas existem uns tantos.
                Por quê a indignação? Por quê o comentário? Porque não existe coisa de pé que não tenha sido levantada por algo/alguém. A certeza que “temos” vem ainda do velho hábito (veste) do sacerdote. Ainda não entrou em nossa cabeça dura que diante de Deus somos todos iguais, não há quem desfrute de privilégios especiais salvo aqueles que provém da comunhão, da experiência, do viver diário. Ainda vestimos hábitos, não os mesmos, mas com a mesma função: diferenciarmo-nos da plebe através de paramentos visíveis e claramente identificáveis. Ainda cremos que a gravata fará a diferença necessária para que Deus nos ouça/atenda.
                Ai de nós.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Jóias de Cristo


                Hoje assistimos a uma pequena cantata infanto-juvenil em nossa igreja. O título da obra era: “Os Sonhos das Três Árvores”. Em poucas palavras, cada uma das três árvores tinha um sonho grandioso, mas que não aconteceria, cada uma se tornaria, ao invés de aquilo que desejava, coisas insignificantes: um cocho, um barquinho e duas traves (que formariam juntas uma cruz...). Clássico.
                Mais um programa igrejeiro ao qual todos nós estamos mais que acostumados. Muito bem. Seria simplesmente isso se eu não tentasse ir mais fundo, se não escarafunchasse um sentido maior do que ser mais um dos centenas (milhares?) de programas que assisti ou ainda assistirei.
                Procurei imaginar, olhando no rostinho de cada uma criança que cantava ali, que atrás daquele sorriso que estava estampado, daquela representação meia-boca, característica infantil, enfim, cada criança que estava ali carregava sua própria tragédia/comédia de vida. Cada uma vidinha ali tinha suas peculiaridades: lembrei de uma que tinha uma doença incurável, que a acompanharia por toda sua vida, lembrei de outra que volta e meia tinha convulsões, lembrei que um garoto, naquela mesma noite havia “mandado” todos de igreja fazerem coisas bastante obscenas...pois é. Ali estavam como anjinhos cantando e prestando o “perfeito louvor”.
                Lembrei que para estarmos perto de Deus pela eternidade (prefiro não divagar sobre o céu, todas as metáforas bíblicas não são suficientes para o descrever, escolho entender que é bastante saber que “perto de Deus” e “longe de Deus” são lugares diametralmente opostos...) precisamos nos tornar como eles. Como as crianças. E é neste exercício de transcrever aquilo que absorvo que tento, me esforço mesmo, para capturar a assertiva divina. O que será que precisamos copiar das atitudes infantis para termos acesso ao paraíso?
                Não adianta mais vir com aquelas respostas prontas: confiança...inocência...etc. porque se analisarmos bem veremos que, principalmente em nossos dias, confiança e inocência são coisas que as crianças quase já nascem sem (talvez porque nós mesmos não inspiremos confiança e porque estejamos roubando sua inocência...).
                Ainda não sei bem a resposta, tenho um palpite e tento apreender pela relação que tenho com meus filhos, mas ainda assim esta é uma comparação insuficiente para descrever a nossa relação com o Todo Poderoso. Fora o fato de que me reconheço pecador e por mais que lute, o testemunho paulino é, como o foi para o próprio, verdade para mim (o bem que quero fazer não faço, mas o mal que não quero...).
                Mas meu palpite é o seguinte: a criança é um poço de potencialidades! Tudo o que ela quiser ser, ela será! Tudo aquilo, também, que for ensinada a fazer, fará.
Conversava com um amigo e ele me contava (apavorado, com toda razão) que na turma de sua filha de oito anos havia um menininho na mesma faixa etária que era ASSUMIDAMENTE gay, e todos o tratavam como tal, PROFESSORES e alunos. “Ele é produto do meio”, dizia o amigo. NÓS sabemos muito bem disso, parece que ELES não sabem.
Nos falta essa abertura, com o passar do tempo vamos nos fechando, vamos nos enclausurando dentro de um caracol de experiências, de impossibilidades que nós mesmos nos impomos e quanto mais entramos nesse caracol, mais ficamos presos...
                Vocações são perdidas pela aparente impossibilidade, muitíssimo daquilo que já poderia ter sido realizado em prol do Reino fica à deriva porque, mesmo que ouçamos a voz divina (vocação é isso, ouvir a voz...) chamando para o trabalho, nos encontramos presos em caracóis que nós mesmos construímos, “renovação do entendimento” é, na melhor acepção da palavra, uma utopia (lugar que não existe...) porque já nos bastamos. Não há espaço para mudança, nem Deus nos muda o entendimento...
                Me ocorreu agora pensar em o quê cada criança daquele coro estará fazendo daqui a dez anos... lembrei que seja o que for, será, em parte, culpa minha também.
Tentarei dormir com esta inquietação.
Paz.

domingo, 15 de novembro de 2009

Tem de todo jeito...

Engraçado como são os crentes, não? Há aqueles que pensam que suas próprias intenções e pensamentos são o espelho do céu na Terra. Há ainda aqueles que pensam (?) que o evangelho do Reino é simplesmente a (sobre)vivência de regras de homens e a desobediência a essas regras garante o inferno mesmo em vida. Há aqueles que somente observam, até bem intencionados, convictos, achando que nada podem fazer, “são muitos aqueles outros...” Há ainda aqueles que não conseguem discutir, debater civilizadamente sobre qualquer assunto, colocam todas as emoções na disputa e até querem brigar. Tantos outros caracteres e personagens permeiam o nosso universo eclesiástico, se acotovelando por um lugar ao sol da aceitação e do reconhecimento públicos...
Aprendi com meu velho pai que é por esses todos que Cristo morreu, é por tantos quantos que Ele, na manifestação mais sublime da Graça, o Soberano Criador do universo humilhou-se à condição humana e, pensando também nestes, ofereceu-se como o sumo sacrifício. Porque então negar-se a apascentá-los? Porque negligenciar a correção? Porque suprimir e, amedrontados, esconder valores, princípios e atitudes dignas do Reino (leia-se do Reino mesmo, sem rodeios e “mise en scènes”...)?
Difícil. Muito difícil mesmo, mas possível.