domingo, 13 de dezembro de 2009

Epifania

                               Lembro bem daquela noite: enquanto dirigia para casa, cansado da lide, (talvez nem tão cansado assim) a lide, o ofício de ensinar o incognoscível: música, nos faz um tanto insensíveis tais quais os médicos que cortam, torcem, costuram um ser humano sem o menor remorso, tratamos a música como mero objeto de trabalho, ferramenta através da qual retiramos o sustento, reforçamos idéias e/ou disponibilizamos conteúdo programático... voltando à viagem de volta para casa... ora o rádio ligado, ora o CD tocando quando, aleatoriamente, num momento radiofônico, ouço uma entrevista: Oswaldo Montenegro. Aquele sujeito nunca me chamou a atenção, excetuando-se a música-tema do Sassá Mutema, nada conhecia da obra daquela figura, mas fui, não sei porquê, compelido a continuar escutando e comecei a ouvi-lo muito melhor do que jamais o havia ouvido, falava do seu jeito boêmio, de sua opção por um modo de vida desligado do mundo, de sua descoberta pessoal de que um artista deve ter, tão somente, sua marca claramente estampada em tudo quanto faz, e num momento musical, parte para cantar algumas músicas de seu repertório quando passo por um momento de alumbramento que não vivia há muito tempo... aquela música falava comigo! Tentei até teorizar procurando quais exatamente seriam os temas universais escolhidos pelo autor para conseguir tal efeito, mas a epifania foi tão arrebatadora que os pensamentos se esvaíram, a música gritava meu nome, falava com cada parte da minha vida, dizia tudo aquilo que eu não tinha sido capaz de dizer até aquele momento, tentei teorizar de novo, coloquei a culpa dessa frescura na iminência de uma crise dos quarenta, mas tudo fazia sentido naquele momento... cada palavra, cada verso tinha endereço certo: um determinado momento da minha vida! A experiência quase religiosa ia me arrebatando a cada verso, cada um deles me açoitava...
                Antes que você possa começar a rir de mim sem parar, tente você mesmo não “existencializar” esses versos (principalmente se você já passou dos trinta e cinco)... disponibilizo a letra para que você tire suas próprias conclusões:

                A Lista – Oswaldo Montenegro

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?
  

                Pode enxugar, eu finjo que não vejo...

2 comentários:

  1. Foi mal eu ri antes do tempo! hehehehehehe! Abração!

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  2. Elbér, td bom?
    Aqui é o irmão Wagner,
    preciso muito entrar em contato com vc (urgente)
    me manda o seu e-mail no orkut como depoimento

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